São João Paulo II, nascido
Karol Wojtyła em 18 de maio de 1920, foi o papa que mais tempo serviu no século
XX. Nascido em Wadowice, uma pequena cidade não muito longe de Cracóvia, o papa
viajado é bem conhecido por seus ensinamentos sobre a Divina Misericórdia desde
sua eleição para o papado em 1978. Ao longo de seu pontificado, o papa
constantemente se centrou nas misericórdias de Deus.
São João Paulo II
concentrou muitos de seus esforços em trazer Cristo para a cultura, por meio da
Divina Misericórdia de Deus. O Domingo da Divina Misericórdia, que cai no
segundo domingo da Páscoa, nos lembra que a misericórdia é a resposta final
para os problemas do mundo de hoje. Aliás, João Paulo II morreu na vigília da
festa cinco anos depois de ter oficialmente concedido a festa à Igreja
Universal, e foi beatificado (2011) e canonizado (2014) nos Domingos da Divina
Misericórdia.
No primeiro domingo do
Advento, 30 de novembro de 1980, o Papa João Paulo II publicou sua segunda
carta encíclica “Dives in Misericordia” (Rico em Misericórdia), na qual
descreve a misericórdia de Deus como a presença de um amor que é maior do que
qualquer mal, maior do que qualquer pecado e maior do que a morte. Nesta
encíclica, ele convoca a Igreja a se dedicar a implorar pela misericórdia de
Deus para o mundo inteiro.
A publicação desta segunda
encíclica foi provavelmente o acontecimento mais importante na vida do Santo
Padre e na sua relação com Santa Faustina e com a mensagem da Divina
Misericórdia.
Com base em reflexões
da Dives in Misericordia (DM), vemos vários fundamentos teológicos
essenciais para ter uma verdadeira compreensão e expressão da misericórdia de
Deus.
Em primeiro lugar, João Paulo aponta para a revelação da misericórdia no mistério pascal — a paixão, morte, ressurreição e ascensão de Jesus. Para que a “justiça absoluta” aconteça, ele diz, “Cristo sofre a paixão e a cruz por causa dos pecados da humanidade. Isso constitui até mesmo uma ‘superabundância’ de justiça, pois os pecados do homem são ‘compensados’ pelo sacrifício do Homem-Deus” (DM, 7). A verdadeira misericórdia é revelada porque “Ele nos salvou, não por causa de coisas justas que tivéssemos feito, mas por causa de sua misericórdia” (Tit 3, 5).
“Mas o pai disse aos seus servos: 'Ide depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, pois, este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado!' E começaram a festejar.” (Lc 15,22-24).
A misericórdia restaura a dignidade e valoriza todos os homens pelo que eles são, à imagem de Deus, não meramente pelo que eles merecem. Para esse fim, vale a pena citar o santo Papa:
“A misericórdia em si mesma, como uma perfeição do Deus infinito, também é infinita. Também infinita, portanto, e inesgotável é a prontidão do Pai para receber os filhos pródigos que retornam à Sua casa. Infinitas são a prontidão e o poder do perdão que fluem continuamente do valor maravilhoso do sacrifício do Filho. Nenhum pecado humano pode prevalecer sobre esse poder ou mesmo limitá-lo. Da parte do homem, somente a falta de boa vontade pode limitá-lo, a falta de prontidão para se converter e se arrepender, em outras palavras, a persistência na obstinação, opondo-se à graça e à verdade, especialmente diante do testemunho da cruz e da ressurreição de Cristo.”
São João Paulo II, em seu ministério, exemplificou a misericórdia. Ele abraçou todos os que estavam sofrendo por meio de suas muitas visitas papais e se opôs à matança inocente da humanidade, mais evidente no aborto e na eutanásia. O mais surpreendente é que, depois de ser baleado várias vezes, ele visitou seu suposto assassino na prisão, perdoou-o e implorou aos tribunais que perdoassem o homem da prisão perpétua.
Aonde isso nos leva? Carregamos as cruzes pelo bem dos outros? “O amor misericordioso é supremamente indispensável entre aqueles que estão mais próximos uns dos outros: entre maridos e esposas, entre pais e filhos, entre amigos”, escreveu o papa. “E é indispensável na educação e no trabalho pastoral” (DM, 14). Na cruz de Cristo, recebemos um exemplo da misericórdia de Deus e somos desafiados a estender Sua Divina Misericórdia aos outros.
E nós? Que necessidade
temos, como filhos de Deus, da misericórdia de Deus? Em que áreas de nossas
vidas e de nossa profissão lutamos para encontrar misericórdia e perdão de
Deus? É verdade que, como missionários da misericórdia, somos chamados a
espelhar a misericórdia de Deus para os irmãos com quem interagimos e que não
'merecem' misericórdia! (fundamento básico para derramarmos misericórdia é não a
merecer, caso contrário, seria aplicação da justiça). Mas como podemos praticar
a misericórdia sem primeiro buscar recebê-la, sem reconhecer que somos
absolutamente dependentes da Sua misericórdia, por estarmos mergulhados no
pecado? Precisamos implorar muito pelo Seu perdão e Sua misericórdia, sem medo,
sem receios, sem desculpas, de plena consciência de quem somos e de on de
viemos, e pedir incessantemente, já que nosso próprio Senhor nos lembrou que
"aquele a quem pouco foi perdoado mostra pouco amor." (Lc 7, 47)?
Corajosos, peça ao Senhor
sua Divina Misericórdia, já que Ele nunca se cansa de oferecê-la a nós.